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O Que Significa o Louco no Tarot? Conheça sua Criança Interior

Atualizado: há 4 dias

Se você pesquisar em diferentes fontes o que significa o Louco no tarot, vai encontrar definições como “aventura, intuição, coragem, autoconfiança”, mas também a impulsividade e imaturidade comuns na juventude.


Mesmo com as características gerais, podemos analisar mais a fundo essa energia que caminha na linha tênue entre ousadia e risco.


Cartas do "Louco" em diferentes decks de tarô.
Carta do Louco em diferentes decks de tarô (da esquerda para a direita): Tarô de Marselha, Gothic Terror Tarot Deck, Dark Wood Tarot/Sasha Graham, Tarô de Waite-Smith.

O que significa o Louco no tarot?


Há muitas formas de interpretar o Louco no tarô, mas talvez a mais familiar seja: sabe aquela vontade Louca de se jogar na vida?


Todas as pessoas sentem isso. Essa atração pela liberdade aparece de diferentes formas ao longo da vida: na empolgação em curtir uma festa, numa zoeira despretensiosa, ou até, na resistência em viver da arte.


O Louco é nossa versão sem filtros ou influências, que desafia regras e bota a cara no sol. É também o espírito da música, do cinema, da poesia. A leveza da arte recarrega as energias e nos mantém firmes no dia a dia. Sem dar vazão à nossa essência, encarar a realidade é mais difícil.


Ao mesmo tempo que a descontração alivia a alma, a irresponsabilidade pode ser atraente. A criança interior, espontânea e curiosa, não tem maturidade para liderar a vida sem supervisão. Por isso, se não ficarmos de olho nela, podemos ter atitudes impulsivas e inconsequentes.


Pelo Louco ser nossa essência pura, os 22 arcanos maiores, as cartas principais do tarô, formam a chamada "Jornada do Louco". Representado pelo número 0, ele é a única carta sem posição fixa na ordem simbólica dos arcanos maiores. O restante deles tem lugar certo, pois simbolizam fases interconectadas da vida.


Esse dia foi Louco: a história da bagunça organizada


Nosso "comportamento Louco" sempre esteve presente na história da humanidade, e podemos perceber isso em diferentes épocas.


Na Roma Antiga, a Saturnália era um festival dedicado ao deus Saturno, onde as normas sociais eram temporariamente suspensas. Durante a festividade, extravagâncias, hostilidade, embriaguez e outras formas de expressão eram permitidas para que a revolta fosse "aliviada".


Na imagem, várias pessoas, incluindo homens, mulheres e crianças, interagem de forma animada e descontraída, compartilhando comida e bebida em um ambiente caótico e festivo.  As figuras vestem trajes romanos, e a composição destaca a mistura de classes em um espaço aberto, cercado por árvores e arquitetura romana. As cores são quentes, criando uma atmosfera acolhedora que reflete a liberdade e o excesso típicos das celebrações da Saturnália.
Saturnália (1783), de Antoine-François Callet

Se, por um lado, a tradição dava a muitos a oportunidade de acessarem seus direitos negados, por outro, funcionava como uma espécie de estratégia de controle. De certa forma, esse impulso humano sempre foi reconhecido e manejado pelas forças de poder.


Os Bobos da Corte também são parte importante dessa história. Comuns nas cortes europeias entre os séculos XI e XVIII, eles eram os únicos que podiam questionar as ordens do rei, misturando humor e inteligência.


A imagem é em preto e branco e pertence a uma página de livro. Na imagem, é possível ver o Rei e o Bobo da Corte, um de frente para o outro, se encarando. Ambos os homens são brancos e aparentam ter idade acima de 60 anos. Os dois usam uma coroa igual, com barretes quadrados , pretos e sólidos na parte superior. Seus trajes são na cor preta e sem detalhes relevantes.
Rei e Bufão (Bobo da Corte) - Livro Jung e o Tarô: Uma Jornada Arquetípia

A Saturnália originou festas como o Carnaval, mostrando que nosso flerte com a informalidade atravessa os séculos. Mesmo quem não gosta de participar, sabe que a liberdade e o excesso são partes da experiência.


Significado do Louco na Cultura


O Louco está presente na humanidade não apenas em festas populares ou costumes antigos, mas também em diversas outras manifestações culturais.


No universo dos jogos, o coringa no baralho e no pôquer tem o papel de uma carta livre e imprevisível. Sua presença marca o inesperado, podendo mudar inesperadamente rumo da partida, assim como poderíamos agir sob influência do nosso Louco interno.












No cinema, o conflito entre a fantasia da infância e a responsabilidade da vida adulta é explorado no filme Peter Pan. Enquanto Peter representa o espírito jovem que não quer amadurecer, Wendy entende a importância de equilibrar ambos aspectos. O dilema entre liberdade e a responsabilidade e são características marcantes do Louco.


A imagem ilustra uma cena de desenho. A cena se passa no telhado de uma casa. Wendy está na varanda, de roupão azul, do lado de dentro. Com sua mão direita, ela toca o rosto do Peter Pan.  O Peter Pan está sentadoe flutuando à beira da varanda, com as pernas e braços cruzados.  Eles estão um de frente para o outro.  A roupa do Peter Pan é inteiramente verde com exceção dos seus sapatos que são  marrons. Na cintura, usa um cinto marrom com uma mini faca.  No seu chapéu, há uma pena vermelha na ponta.
Perter Pan e Wendy

Outro exemplo popular aparece no filme Shrek Para Sempre: O Capítulo Final. No enredo, o flautista mágico contratado por Rumpelstiltskin, enfeitiça e torna os ogros vulneráveis ao fazê-los dançar no momento do ataque.


Historicamente, a flauta mágica tem o poder de "dissolver a cólera", mostrando a importância de encarar a vida da forma mais leve possível. Os memes, tão característicos do Brasil, são exemplos de como entendemos bem sobre isso.


A presença do Louco também se destaca nas artes plásticas. Artistas como Picasso, Rouault e Buffet, consciente ou inconscientemente, retrataram versões do Louco em suas obras.



Na música, o Louco também aparece constantemente: quem nunca ouviu "Ovelha Negra", de Rita Lee, ou "Maluco Beleza", de Raul Seixas? E, claro, Tim Maia com Descobridor dos Sete Mares? A irreverência trabalhada na imagem da banda Mamonas Assassinas é outro bom exemplo dessa vibe livre, autêntica e provocativa.






O Louco está em nossa cultura também no saber popular, como no ditado popular "De médico e louco todo mundo tem um pouco", na representação dos palhaços de circo e até no lendário chapéu de burro, que originalmente simboliza inteligência e aprendizagem.


 A foto, em preto e branco, retrata um menino de aproximadamente 12 anos sentado em um tronco de madeira cortado ao meio e posicionado horizontalmente. Ele está de costas para o observador e de frente para uma parede de madeira. O menino veste um paletó preto com bolinhas ainda mais escuras, combinado com calça e botas estilo galocha brancas. Na cabeça, usa um chapéu triangular e pontudo feito de papel pardo, conhecido como chapéu de burro. Ao lado, um varal exibe uma peça de roupa, que parece ser uma cueca ou shorts detalhado com manchinhas de onça. A parede ao lado está coberta de rabiscos gravados em madeira. Entre eles, é possível reconhecer formas triangulares.
Exemplo de "chapéu de burro"

“Meter o Louco” Nem Sempre é Bom


Quando não percebemos nossos impulsos, o Louco pode assumir o comando de forma precipitada e desorientada, levando a atitudes inconsequentes. Sua energia é potente, mas sem direção, nos arrasta para situações desconfortáveis e até prejudiciais.


Reconhecer e dar espaço para nossa versão autêntica aparecer favorece uma convivência equilibrada com ela. Não se trata de reprimir o impulso, mas de dosar a pitada de pimenta para evitar a imprudência.


A carta "O Louco" no Dark Wood Tarot mostra um jovem à beira de um penhasco, em cima de ossos, vestindo roupas escuras e segurando uma rosa branca. Ele parece prestes a dar um passo no vazio, sugerindo coragem e curiosidade diante do desconhecido. Ao seu lado, um cão o acompanha, em posição de alertá-lo sobre a necessidade do cuidado. O cenário é noturno, ao fundo é possível observar montanhas, a Lua e um céu estrelado.
"O Louco" - Dark Wood Tarot/ Sasha Graham. Art by Abigail Larson.

Personagens como o Coringa, por exemplo, ilustram o que pode acontecer com um Louco totalmente inconsciente e descontrolado.


A famosa cena dele no programa do Murray retrata a criança interior ferida, reagindo impulsivamente pelas emoções. Na infância, o cérebro aprende a reagir conforme nossas experiências e necessidades. Sem consciência disso, podemos continuar reagindo do mesmo jeito na vida adulta.


Se você não gosta ou sente desconforto com imagens e diálogos fortes, recomendo que não assista ao vídeo abaixo.


“De Médico e Louco Todo Mundo Tem um Pouco”


Embora a gente resista, as sombras fazem parte de quem somos, e ignorá-las pode desencadear efeito reverso. Conhecer esse lado nos ensina a conviver com ele sem sermos dominadas.


Muitas vezes, temos dificuldade em lidar com certas emoções, e sem perceber, tentamos acabar com esse incômodo pela satisfação que traz a comida, a bebida, a paixão, etc. Tratando apenas o sintoma, a causa do problema continua lá, sendo silenciada até que a gente cuide dela com vontade.


Para interromper o ciclo, é preciso percebê-lo e focar a atenção em quebrar sua mecânica. Investir em autoconhecimento, exercitar a atenção plena no agora, e se abrir para orientação, são possibilidades que podem ser muito úteis.


Quanto mais nos permitimos ser levadas pelo inconsciente, mais lento e difícil tende a ser o desenvolvimento pessoal. Podemos até o evitar, mas não há como pular etapas. Se queremos parar algum incômodo, é preciso estar consciente pra isso.


E o Louco do tarô com isso?


O Louco representa a liberdade sem amarras, o ponto de partida e chegada da vida. O número 0 torna ele indivisível em essência.


Embora a responsabilidade e a ordem façam parte do jogo, há momentos em que precisamos ousar mais. Curtir a experiência que é a vida, sem tantos rótulos e limitações, também é importante.


No tarô, o Louco encoraja a bancar quem somos, sem medo do julgamento. Calcular riscos é necessário, mas, sem arriscar sermos nóss mesmos, nos distanciamos do que é realmente essencial.


E aí, quando foi a última vez que você "meteu o Louco"?


Marina Jordão é taróloga, publicitária, pós-graduada em Marketing, gestora de conteúdo e criadora do Fundamentarô.

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