O Que Significa o Louco no Tarot? Conheça sua Criança Interior
- Marina Jordão
- 7 de nov. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: há 4 dias
Se você pesquisar em diferentes fontes o que significa o Louco no tarot, vai encontrar definições como “aventura, intuição, coragem, autoconfiança”, mas também a impulsividade e imaturidade comuns na juventude.
Mesmo com as características gerais, podemos analisar mais a fundo essa energia que caminha na linha tênue entre ousadia e risco.

O que significa o Louco no tarot?
Há muitas formas de interpretar o Louco no tarô, mas talvez a mais familiar seja: sabe aquela vontade Louca de se jogar na vida?
Todas as pessoas sentem isso. Essa atração pela liberdade aparece de diferentes formas ao longo da vida: na empolgação em curtir uma festa, numa zoeira despretensiosa, ou até, na resistência em viver da arte.
O Louco é nossa versão sem filtros ou influências, que desafia regras e bota a cara no sol. É também o espírito da música, do cinema, da poesia. A leveza da arte recarrega as energias e nos mantém firmes no dia a dia. Sem dar vazão à nossa essência, encarar a realidade é mais difícil.
Ao mesmo tempo que a descontração alivia a alma, a irresponsabilidade pode ser atraente. A criança interior, espontânea e curiosa, não tem maturidade para liderar a vida sem supervisão. Por isso, se não ficarmos de olho nela, podemos ter atitudes impulsivas e inconsequentes.
Pelo Louco ser nossa essência pura, os 22 arcanos maiores, as cartas principais do tarô, formam a chamada "Jornada do Louco". Representado pelo número 0, ele é a única carta sem posição fixa na ordem simbólica dos arcanos maiores. O restante deles tem lugar certo, pois simbolizam fases interconectadas da vida.
Esse dia foi Louco: a história da bagunça organizada
Nosso "comportamento Louco" sempre esteve presente na história da humanidade, e podemos perceber isso em diferentes épocas.
Na Roma Antiga, a Saturnália era um festival dedicado ao deus Saturno, onde as normas sociais eram temporariamente suspensas. Durante a festividade, extravagâncias, hostilidade, embriaguez e outras formas de expressão eram permitidas para que a revolta fosse "aliviada".

Se, por um lado, a tradição dava a muitos a oportunidade de acessarem seus direitos negados, por outro, funcionava como uma espécie de estratégia de controle. De certa forma, esse impulso humano sempre foi reconhecido e manejado pelas forças de poder.
Os Bobos da Corte também são parte importante dessa história. Comuns nas cortes europeias entre os séculos XI e XVIII, eles eram os únicos que podiam questionar as ordens do rei, misturando humor e inteligência.

A Saturnália originou festas como o Carnaval, mostrando que nosso flerte com a informalidade atravessa os séculos. Mesmo quem não gosta de participar, sabe que a liberdade e o excesso são partes da experiência.
Significado do Louco na Cultura
O Louco está presente na humanidade não apenas em festas populares ou costumes antigos, mas também em diversas outras manifestações culturais.
No universo dos jogos, o coringa no baralho e no pôquer tem o papel de uma carta livre e imprevisível. Sua presença marca o inesperado, podendo mudar inesperadamente rumo da partida, assim como poderíamos agir sob influência do nosso Louco interno.
No cinema, o conflito entre a fantasia da infância e a responsabilidade da vida adulta é explorado no filme Peter Pan. Enquanto Peter representa o espírito jovem que não quer amadurecer, Wendy entende a importância de equilibrar ambos aspectos. O dilema entre liberdade e a responsabilidade e são características marcantes do Louco.

Outro exemplo popular aparece no filme Shrek Para Sempre: O Capítulo Final. No enredo, o flautista mágico contratado por Rumpelstiltskin, enfeitiça e torna os ogros vulneráveis ao fazê-los dançar no momento do ataque.
Historicamente, a flauta mágica tem o poder de "dissolver a cólera", mostrando a importância de encarar a vida da forma mais leve possível. Os memes, tão característicos do Brasil, são exemplos de como entendemos bem sobre isso.
A presença do Louco também se destaca nas artes plásticas. Artistas como Picasso, Rouault e Buffet, consciente ou inconscientemente, retrataram versões do Louco em suas obras.
Na música, o Louco também aparece constantemente: quem nunca ouviu "Ovelha Negra", de Rita Lee, ou "Maluco Beleza", de Raul Seixas? E, claro, Tim Maia com Descobridor dos Sete Mares? A irreverência trabalhada na imagem da banda Mamonas Assassinas é outro bom exemplo dessa vibe livre, autêntica e provocativa.
O Louco está em nossa cultura também no saber popular, como no ditado popular "De médico e louco todo mundo tem um pouco", na representação dos palhaços de circo e até no lendário chapéu de burro, que originalmente simboliza inteligência e aprendizagem.

“Meter o Louco” Nem Sempre é Bom
Quando não percebemos nossos impulsos, o Louco pode assumir o comando de forma precipitada e desorientada, levando a atitudes inconsequentes. Sua energia é potente, mas sem direção, nos arrasta para situações desconfortáveis e até prejudiciais.
Reconhecer e dar espaço para nossa versão autêntica aparecer favorece uma convivência equilibrada com ela. Não se trata de reprimir o impulso, mas de dosar a pitada de pimenta para evitar a imprudência.

Personagens como o Coringa, por exemplo, ilustram o que pode acontecer com um Louco totalmente inconsciente e descontrolado.
A famosa cena dele no programa do Murray retrata a criança interior ferida, reagindo impulsivamente pelas emoções. Na infância, o cérebro aprende a reagir conforme nossas experiências e necessidades. Sem consciência disso, podemos continuar reagindo do mesmo jeito na vida adulta.
Se você não gosta ou sente desconforto com imagens e diálogos fortes, recomendo que não assista ao vídeo abaixo.
“De Médico e Louco Todo Mundo Tem um Pouco”
Embora a gente resista, as sombras fazem parte de quem somos, e ignorá-las pode desencadear efeito reverso. Conhecer esse lado nos ensina a conviver com ele sem sermos dominadas.
Muitas vezes, temos dificuldade em lidar com certas emoções, e sem perceber, tentamos acabar com esse incômodo pela satisfação que traz a comida, a bebida, a paixão, etc. Tratando apenas o sintoma, a causa do problema continua lá, sendo silenciada até que a gente cuide dela com vontade.
Para interromper o ciclo, é preciso percebê-lo e focar a atenção em quebrar sua mecânica. Investir em autoconhecimento, exercitar a atenção plena no agora, e se abrir para orientação, são possibilidades que podem ser muito úteis.
Quanto mais nos permitimos ser levadas pelo inconsciente, mais lento e difícil tende a ser o desenvolvimento pessoal. Podemos até o evitar, mas não há como pular etapas. Se queremos parar algum incômodo, é preciso estar consciente pra isso.
E o Louco do tarô com isso?
O Louco representa a liberdade sem amarras, o ponto de partida e chegada da vida. O número 0 torna ele indivisível em essência.
Embora a responsabilidade e a ordem façam parte do jogo, há momentos em que precisamos ousar mais. Curtir a experiência que é a vida, sem tantos rótulos e limitações, também é importante.
No tarô, o Louco encoraja a bancar quem somos, sem medo do julgamento. Calcular riscos é necessário, mas, sem arriscar sermos nóss mesmos, nos distanciamos do que é realmente essencial.
E aí, quando foi a última vez que você "meteu o Louco"?
Marina Jordão é taróloga, publicitária, pós-graduada em Marketing, gestora de conteúdo e criadora do Fundamentarô.
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